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Confusa voz noturna, de entre nevoas:


«Quem sabe se tu és, ó Creatura,
Um Espectro mais proximo e visivel?
Uma Sombra mais densa e mais escura?
Quem sabe o que tu és? E nem eu sei
Já distinguir o Espirito do Corpo!
Um phantasma chimerico beijei,
Imaginando-o um vulto de mulher!


Formaturas aéreas, fingimentos,
Serão as tuas formas virginaes?
Quem sabe se o teu rosto florescido
Como um jardim humano, não é mais
Do que uma branda nevoa enganadora
Que o meu desejo funde e crystalisa
N'essa tua aparencia que esta aurora
Veste de oiro e de rosas?...»


 E Marános,
Como absorto e scismatico ficou,
Olhando-a longamente com uns olhos
Onde esta luz de vêr se transtornou,
O que fez á Donzela grande medo!
Pois imaginou logo que a loucura
Dominára Marános, de repente;
E disse-lhe tomada de piedade:


«Acaso algum desgosto intimamente
Te assaltou, de improviso? ou descobriu
Alguma nova dôr teu coração?

Trazes comtigo o espanto de quem viu