E Eleonor, tão alta e inacessivel
Em seu divino amor e formosura,
Emquanto a sombra viva do seu corpo
Era um desdobramento de ternura,
Contemplava Marános, em silencio...
Tão confuso ficára e surprehendido,
Que em seus olhos a luz se enevoou;
E por um sexto e íntimo sentido,
Em desvario, olhava aquela estranha
Aparição! Sonho encarnado! Amôr!
Alma tão evidente, que era corpo,
Perfume tão intenso, que era flôr!
O Zephyro passava e as tenras folhas
Vergavam sob o peso de seus pés...
E na calma penumbra alumiante,
E no grande silencio que se fez,
Como estrela que nasce ou flôr ou chamma,
A voz de Eleonor falou assim:
«Sou aquela que é amada e que não ama,
Porque o meu Sêr é eterno e virginal.
Eu vivo além do amôr e da tristeza,
Só porque existo e vivo além da morte.
E que és tu para mim, ó Natureza?
Um incendio chimerico e longinquo,
D'onde se exhala a branda claridade
Espiritual que eu sinto percorrer,
Como sangue, este corpo sem edade,
Na alegre e na perpetua Primavera...