38


Para o noturno e tragico rochedo?
E eu que sou para ti? O mesmo que és
Para as arvores da terra; um novo sêr
D'um novo Reino; a Alma, a Esplendidez
Em que a Vida, por fim, se converteu...»


Marános de confuso, era uma sombra...
E Eleonor, que falava distraida,
Fitando os claros olhos na Donzela,
Continuou mais ardente e comovida:


«Quando vaes para casa, ao cair da noite,
E ouves, na Egreja, o toque das Trindades;
E páras no caminho a meditar,
Toda embebida em mysticas saudades,
Não vês saudoso espectro que te fala
De longe ... e te aparece na emoção
Do crepusculo de oiro, em fórmas vagas,
E em teu peito estremece o coração?...
Esse Alguem não é sombra mentirosa,
Mas natural e viva creatura;
E assim como tu és da verde terra,
Ele é da tua íntima ternura...
Pertence ao mesmo Reino a que eu pertenço;
Novo Reino da Vida, onde termina
E principia a linha circular
Da Natureza trágica e divina.


«Tu és o Amor amante, eu sou o Amor
Amado; eu sou a Vida, e tu sómente
És aquilo que vive: eu sou a Dôr,
E a dôr não sofre, não, mas é sofrida.