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Junto ao fogo sagrado se reunem!
Ó volupia do ar que nos abraça!
Embriaguez do sol! Ó verde flôr
Das aguas que o bater d'um coração
Agita em ondas rythmicas de amôr!
Alegria da vida que se vive
Em doce comunhão com as estrelas,
Mais pura e sã do que essa que já tive
No comercio dos homens e do mundo!
Alegria bebida em clara fonte,
Comida em loiro pão de honestidade!
Em tudo vêr a Deus! e em alto monte
Ajoelhar e rezar, quando o sol nasce!
Ó silencio da noite quando vélo
E n'um scismar profundo me concentro...
E quando o luar, a sombra, o sete-estrêlo,
Transmigram para mim ocultamente!
Vago rumor confuso dos Espiritos
Que, á luz da Lua, pairam na penumbra...
Divindades noturnas que aparecem,
N'um mago encantamento que deslumbra!
Paz que desce do Azul; silencio enorme
Que sobe d'este mundo, e no ar, se casam,
Quando na fertil árvore que dorme,
Sonhando, cantam alto os passarinhos!


«Ó extase divino! Embriaguez
Sagrada! Ó Vida etérea! Ah, como eu sinto
A virgindade, o amor, a esplendidez
Que este corpo de crime em si contém!
Ó miseria sem fim de que sou feito!

Fragilidade humana, só tu sabes