E então aquele Espectro, novamente,
Em voz nocturna e múrmura, falou:
«No Principio era a Sombra; não a sombra
Passiva e projectada, mas um vôo
De sombra que a si mesmo se projecta...
Um fumo que era chama adormecida;
Aparencia de morte e de silencio,
Realidade harmonica de vida.
«E eis que a Sombra depois se concentrára;
E d'essa grande, ideal concentração
Nascêra o corpo-estrela, o corpo-mundo,
Mais o corpo do Amor e o da Emoção!
«Este Universo que hoje contemplamos
E sentimos viver e sobre o qual
A admiração amante derramamos,
É um Sêr resuscitado que partiu
Como Lazaro, a tampa do sepulchro.
Nascer o que é, senão resuscitar?
Toda a morte é regresso e toda a vida
Um adeus, um partir para voltar!
A materia que fórma estes outeiros
E o meu sêrro mais alto e comovido,
Foi coração, foi aza e luz dos olhos,
Em mundo anterior desaparecido...
Foi amor e chimerica esperança!
Repara no meu corpo e avistarás
Uma profunda e oculta semelhança
Com a fórma emotiva da tua alma!