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Fez d'ele o Paraiso, a Terra astral,
Onde vive de amor e de alegria
A Creatura animica e perfeita...
E viu seu fragil corpo de agonia
Ser o Pomar do Fruto sempiterno.


Assim pensava, quando, por acaso,
Encontrou dois pastôres que o saudaram.
—Quem era? D'onde vinha? Se um desgosto
O trouxera até ali, lhe perguntaram.
E com simples palavras de amizade
Lhes respondeu Marános. E os pastôres
Deram-lhe pão e leite e mel silvestre
Que invoca, á luz do sol, jardins de flôres.
E com peles de cabra se vestiu
Contra o frio do inverno. E no mais alto
Pincaro da Montanha descobriu
Uma Ermida onde, á noite, descansava.
E pelos duros sêrros caminhando
No meio do silencio e da profunda
Soledade, os seus olhos levantando
Para os astros já proximos da terra,
Meditava e sentia o coração
Bater no peito forte; e tinha assim
Consciencia de si proprio e, ao mesmo tempo
Da Vida eterna, tragica e sem fim!
E as nuvens lhe falavam, de passagem;
E os rochedos agrestes lhe falavam...
E entre os seus claros olhos e a Paisagem
Não existia já distancia alguma;
Ela estava integrada em seu espirito,

Seu espirito esparso em toda ela...