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E ao sentir uma lagrima no rosto,
Tambem sentia a pequenina estrela
Que, atravez a distancia indefinida
Voando... voando... viéra recolher-se
Ao seio d'essa lagrima, onde a Vida
É apenas humildade e comoção...


E ali, n'aquele ar vivo das alturas,
Mysteriosas vozes e sussurros
Talvez contemporaneos das escuras
E remotas origens da Montanha...
Repercussões longínquas do ruido
Com que a Serra se ergueu... etereos sons
No desvanecimento e no desmaio
Do Tempo ... echo espectral do Fiat Mons...
Aladas, vagas sombras rumorosas
Pairavam, penetrando de mysterio
Os montes e as encostas fragarosas
E o coração confuso de Marános...
E julgou, por instantes, regressar
Aos primitivos tempos creadôres,
Em que do seio a referver do mar,
Surgiam cordilheiras abrasadas,
Quando o Sol, moço ainda, saciava
Na Terra o seu desejo! e os arvoredos
Cyclopicos nasciam, e animaes
Que, ao andar, esmagavam os rochedos!
Num sonho regressivo, o seu espirito
Percorreu essas tragicas edades,
Quando ele, bruto ainda, a vez primeira,
Ás sofregas e vivas claridades

Do apaixonado Sol, viu na agua clara,