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E Marános assim, perante aquele
Mar de nuvens, pensava ... E dentro em pouco,
Formou-se um Vulto escuro, junto d'ele,
Irrompendo das brumas, vagamente...


E eis que o Outomno lhe fala: «Ó bom amigo,
Não sabes quem eu sou? Dá-me o teu braço!
Atravez d'estes píncaros comtigo
Quero viver em doce companhia...
Não sei porque deixaste a bôa terra
Dos pinheiraes sombrios, onde eu sou
Mais belo ainda, sim, que n'esta Serra:
Ermo altar com a imagem do Silencio...


«Eu amo, sobre tudo, os arvoredos
Que a minha grã tristeza veste de oiro!
E aqui, como tu vês, ha só rochedos
Insensíveis á propria Primavera.
Ah, porque abandonaste a comovida,
Fertil terra do Vale, onde me visto
Da côr que o anoitecer da luz da vida
Põe no rosto confuso das florestas...
Lá onde eu sou jardim abandonado
Com ruinas de fontes e cascatas,
No qual vageia a sombra do Passado
Sobre folhagens mortas que esvoaçam...
E onde sou a dramatica nudez
De femininos troncos ainda virgens;
E a árvore já mulher, na viuvez
Em que a deixou, fugindo, o claro Abril!
E com materno amor, ainda sustenta

Fructos orfãos caindo como lagrimas,