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lheres são outros tantos actos de acusação contra o egoismo, a inconsciência e a nulidade de marido. A mulher é para seu marido consoante seu marido a fez.»

Isto é dito por um médico e um homem.

«O mais extranho — clama por fim com dupla autoridade de psicólogo e de fisiologista — é que nós exigimos a virtude da mulher e tudo fazemos para dela a afastar.»

Que singulares paradoxos os de uma moral que classifica de frágil a mulher e lhe impõe resistência para manter a honestidade, quando tem contra si a hereditariedade, a falsa situação de deprimida no lar, a artimanha licenciosa dos sedutores e a péssima educação ministrada com uma inconsciência que apavora.

Além de tantos contras, ha o desprêso total pelos seus direitos de amôr a que se refere o Dr. Bourgas. Ha as doenças a que expõe a falta de higiene e as inversões sexuais exigidas por maridos avariados e degeneradamente libertinos. E rara é a mulher que hoje não sofre os estragos produzidos nos seus delicados orgãos, por um amor selvagem, que a agride impetuosamente no solene momento esponsálico continuado na função conjugal, e que assim descreve o médico illustre «quand la jeune fille revâit em dieu rayonant, el, voit l'acommetter une sorte de bête velue el trepidante, balbutiant des sons rauques, affamé de sa chair, alteré de son sang

Não terá alguma ligação com êsses efeitos o desenlace que os psiquiatras classificaram de loucura lúcida?

Diz ainda o Dr. Bourgas: «O marido brutal e libertino, prepara o triunfo do amante delicado». Quantos mistérios de alcôva, quantas solicitações repugnantes, quantas inversões que revoltam, justificam a repulsa que muitas mulheres de susceptibilidades delicadas veem um dia a sentir pelo consorte?