Comecei este livro sob os efeitos de um violento impressionismo. Fui escrevendo, escrevendo, desabafando, num revolto queixume de quem sofre, numa agitada revolta de quem sente.
Era preciso transformar este ódio e êste amor revestidos de tragédia, em luz, em reacção, em onda de pensamentos e sensações. E em vibrar de exaltação, numa exaltação de agruras reprimidas, fundas, despedaçadoras, agitei as mais reconditas e intensas repercussões do pensar e do sentir que dilatam a imaginação e o coração feridos.
Vejo agora, ao reler o que escrevi, que acentuei nos dominios do sub-consciente um traço de psicologia de contrastes que caracterisa a nossa raça.
Sob o império da paixão, comecei por destilar o fel dos cruciantes calvários convertido em fremento de revoltada fulminação. Mas pouco a pouco penetrei no fundo da alma que acusara, entendi-lhe melhor as sensações, revolvi-lhe as chagas e acabei por lamentar atravez da odisseia que me atormenta e é fonte de tantas inspirações, a odisseia de que sangram dores e me faz terminar estas páginas enternecidas com lágrimas e contrição absolvida pelos elevados pensamentos contidos neste vibrante soneto dos «Versos»: