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fica-se. O esposo ofendido leva a quantos procedem suburdinados ás suas ordens, um frémito de irada indignação. Envenenado o coração de ódio e de máguas, sedento de vingança e agitado de despeitos, nada mais vê do que a sua tortura, o seu intimo desespero, a sua honra ferida.

Conjugam-se nesse estado de alma o furôr de Othelo, que, nas mãos brutais do mouro impetuoso, estrangulára a nívea garganta da Desdemona. E as vinganças de Hamlet quando fere a alma candida de Ophelia com os dardos do sarcasmo, exclamando em impetos de irónica e implacavel revolta que a si mesmo se condena e ofende:

 

«Sou vingativo, duro, orgulhoso, exaltado,
De tantas tentações a um só tempo assaltado,
Que nem as sei dizer, nem as contar consigo.
E todos, afinal, parecem-se comigo:
Nós, entre a terra e o céu, rastejamos no mundo,
Inuteis animaes dentro de um charco imundo...
Entra para um convento, homem nenhum merece
Uma lagrima, nun beijo, nm suspiro, uma prece...
Entra para um convento... Adeus!... "

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Shakespeare agitou na tragédia emocionante a história de todas as paixões, de todas as cóleras e de todos os amôres. E se o destino elegeu a alma de um poeta para viver em realidade essas paixões, é que decerto a predestinára para as grandes e fundas dores que se transfundem em luz ideal — «Padeci, logo vivi e criei», eis a legenda do alívio e da resignação, que inspirará na odisseia das suas angústias a alma do poeta que delas deve fazer uma epopeia magistral para apontar à humanidade o trilho da virtude apartando-a de erros, de vicios e maldades.