― ¿Tu não tens um explicador?
― Não. O meu pai é muito pobre. Só em comprar-me os livros faz um grande sacrificio. Eu gostava de lhe poder mostrar que sou reconhecido, aproveitando as lições; mas, por mais que faço, não percebo nada e acanho-me de fazer perguntas ao mestre. Êle bem insta comigo para que diga o que não entendo, mas eu...
― És acanhado, fazes mal. Mas vou propor-te uma cousa.¿Onde móras tu?
― No Campo de Santana.
Pois bem, eu móro na rua do Telhal, não é muito longe.
― Pertissimo.
― Pede a teus pais que te deixem ir á noite a minha casa e verás como eu te ensino bem a lição.
― ¿E a tua família não se zanga?
― ¡Isso, sim! A minha mãe é a primeira pessôa a dizer me que, neste mundo, um dos preceitos, que um homem de bem deve seguir, é ajudar os outros em tudo que não envolva prejuizo próprio, ¿ perce- bes?
― Percebo. É o mesmo que dizer: em tudo que não seja mau para êle.
― Exactamente.
Assim conversando, tinham chegado ao Campo de Santana. Despediram-se com um amigável apêrto de mão e António insistiu:
― Até logo.