Foste a única que fizeste promessas de não comprar tremoços; por isso tos não ofereço.
― Os bons propósitos devem cumprir-se, afirmou a criada rindo.
Ernestina, vendo comer as outras, disse:
Mas a minha mamã não me proibiu de comer tremoços... A tua é que...
― Vá lá, disse Mariana, eu sou bôa rapariga e passo-te por esta com a condição de não ires tôlamente dar parte em casa de que comi tremoços. A mamã tem a mania de que me fazem mal: é preciso respeitar-lhe as caturreiras e... fazer a minha vontade.
― Eu não sei, disse a criada com a bôca cheia de tremoços, como a menina se atreve assim a desobedecer á sua mãezinha que é uma senhora tão boa.
― Se não sabes, é porque és tôla. Diz o tio padre que, se a experiência dos pais servisse para os filhos, toda a gente no mundo tinha juizo.
― Lá isso é verdade, concordou a criada, ven- cida pelo argumento.
― Agora o que eu não percebo, e talvez tu saibas, é para que os pais teimam em querer impingir aos filhos o saber da sua experiência, quando por sua vez não quizeram aproveitar a dos pais dêles.
― ¡Tu sempre discorres cada coisa com oito anos que eu com os meus doze nunca pensei! observou Ernestina com admiração.
― E' natural... Eu sou muito mais esperta do que tu.