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Para lêr nas férias

― Pois, meu caro menino, respondeu-lhe Josefa, quando não quizer que os outros saibam uma cousa, não lhes faça curiosidade com ela. Garanto-lhe que sei o que é adjectivo e que nunca mais o esquecerei.

E ajuntou trocista :

― Esta sciência devo-a apenas a vocês quererem fazer segrêdo de mim, o que não é nem bom nem bonito.

― Ela tem razão, concordou o primo. Nós tam- bêm não haviamos de gostar que ela nos fizesse o mesmo.

― ¡Ora aí está! disse Josefa satisfeita. Vou dar-te o meu cão branco, para mostrar ao Artur que não sou egoista. A êle não lh'o dei, porque, alêm de me vexar constantemente com o que sabe, quis especular comigo, aproveitando-se da vontade que eu tinha de passear. Tu não te rebaixaste a ser cavalo, mas tens melhor coração.

Artur achou tanta razão a sua irmã que nunca mais a vexou com o seu saber. Mas, quando mais tarde ela lutava com o estudo da gramática a que tinha horror, êle dizia-lhe gabando-se:

― Anda lá, anda, que me deves o saberes o adjecti- vo. Se não fosse eu, quando te chamassem estúpida ou formosa, ainda hoje ignoravas o que era um adjectivo qualificativo. ¡E dizes que eu sou mau! ¡E o Sebastião é que teve o cão branco! ¡O mundo é cheio de ingratos!