para que? Eu nada peço, a não ser dinheiro; dinheiro sim, porque é necessario comer, e as casas de pasto não fiam. Nem as quitandeiras. Uma cousa de nada, uns dous vintens de angú, nem isso fiam as malditas quitandeiras... Um inferno, meu... ia dizer meu amigo... Um inferno! o diabo! todos os diabos! Olhe, ainda hoje não almocei.
— Não?
— Não; saí muito cedo de casa. Sabe onde moro? No terceiro degráu das escadas de S. Francisco, á esquerda de quem sobe; não precisa bater na porta. Casa fresca, extremamente fresca. Pois saí cedo, e ainda não comi...
Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil réis, — a menos limpa, — e dei-lh’a. Elle recebeu-m’a com os olhos scintillantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a enthusiasmado.
— In hoc signo vinces! bradou.
E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento mixto de nôjo e lastima. Elle, que era arguto, entendeu-me; ficou serio, grotescamente serio, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos annos, uma nota de cinco mil réis.
— Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
— Sim? acudiu elle, dando um bote para mim.
— Trabalhando, conclui eu.