mãos sofregas e lascivas, a tornal-a, — não sei se mais bella, se mais natural, — a tornal-a minha, sómente minha, unicamente minha.

No dia seguinte, não me pude ter; fui cedo á casa de Virgilia; achei-a com os olhos vermelhos de chorar.

— Que houve? perguntei.

— Você não me ama, foi a sua resposta; nunca me teve a menor somma de amor. Tratou-me hontem como se me tivesse odio. Se eu ao menos soubesse o que é que fiz! Mas não sei. Não me dirá o que foi?

— Que foi o que? Creio que não houve nada.

— Nada? Tratou-me como não se trata um cachorro...

A esta palavra, peguei-lhe nas mãos, beijei-as, e duas lagrimas rebentaram-lhe dos olhos.

— Acabou, acabou, disse eu.

Não tive animo de arguir, e, aliás, arguil-a de que? Não era culpa della se o marido a amava. Disse-lhe que não me fizera cousa nenhuma, que eu tinha necessariamente ciumes do outro, que nem sempre o podia supportar de cara alegre; accrescentei que talvez houvesse nelle muito de dissimulação, e que o melhor meio de fechar a porta aos sustos e ás dissensões era aceitar a minha idéa da vespera.

— Pensei nisso, acudiu Virgilia; uma casinha só nossa, solitaria, mettida n’um jardim, em alguma rua escondida, não é? Acho a idéa boa; mas para que fugir?

Disse isto com o tom ingenuo e preguiçoso de quem não cuida em mal, e o sorriso que lhe derreava os