cantos da boca trazia a mesma expressão de candidez. Então, afastando-me, respondi:

— Você é que nunca me teve amor.

— Eu?

— Sim, é uma egoista! prefere ver-me padecer todos os dias... é uma egoista sem nome!

Virgilia desatou a chorar, e para não attrahir gente, mettia o lenço na boca, recalcava os soluços; explosão que me desconcertou. Se alguem a ouvisse, perdia-se tudo. Inclinei-me para ella, travei-lhe dos pulsos, susurrei-lhe os nomes mais doces da nossa intimidade; mostrei-lhe o perigo; o terror apaziguou-a.

— Não posso, disse ella dahi a alguns instantes; não deixo meu filho; se o levar, estou certa de que elle me irá buscar ao fim do mundo. Não posso; mate-me você, se o quizer, ou deixe-me morrer... Ah! meu Deus! meu Deus!

— Socegue; olhe que podem ouvil-a.

— Que ouçam! Não me importa.

Estava ainda excitada; pedi-lhe que esquecesse tudo, que me perdoasse, que eu era um doudo, mas que a minha insania provinha della e com ella acabaria. Virgilia enxugou os olhos e estendeu-me a mão. Sorrimos ambos; minutos depois, tornavamos ao assumpto da casinha solitaria, em alguma rua escusa...