CAPITULO LXXIV
Não te arrependas de ser generoso; a pratinha rendeu-me uma confidencia de D. Placida, e conseguintemente este capitulo. Dias depois, como eu a achasse só em casa, travámos palestra, e ella contou-me em breves termos a sua historia. Era filha natural de um sacristão da Sé e de uma mulher que fazia doces para fóra. Perdeu o pae aos dez annos. Já então ralava côco e fazia não sei que outros misteres de doceira, compativeis com a edade. Aos quinze ou dezeseis casou com um alfaiate, que morreu tisico algum tempo depois, deixando-lhe uma filha. Viuva, com pouco mais de vinte annos, ficaram a seu cargo a filha, com dous, e a mãe, cançada de trabalhar. Tinha de sustentar a tres pessoas. Fazia doces, que era o seu officio, mas cosia tambem, de dia e de noite, com affinco, para tres ou quatro lojas, e ensinava algumas crianças do bairro, a dez tostões por mez. Com isto iam-se