passando os annos, não a belleza, porque não a tivera nunca. Appareceram-lhe alguns namoros, propostas, seducções, a que resistia.
— Se eu pudesse encontrar outro marido, disse-me ella, creia que me teria casado; mas ninguem queria casar commigo.
Um dos pretendentes conseguiu fazer-se aceito; não sendo, porém, mais delicado que os outros, D. Placida despediu-o do mesmo modo, e depois de o despedir chorou muito. Continuou a coser para fóra e a escumar os tachos. A mãe tinha a rabugem do temperamento, dos annos e da necessidade; mortificava a filha para que tomasse um dos maridos de emprestimo e de occasião, que lh’a pediam. E bradava:
— Queres ser melhor do eu? Não sei donde te vem essas fiducias de pessoa rica. Minha camarada, a vida não se arranja á toa; não se come vento. Ora esta! Moços tão bons como o Polycarpo da venda, coitado...Esperas algum fidalgo, não é?
D. Placida jurou-me que não esperava fidalgo nenhum. Era genio. Queria ser casada. Sabia muito bem que a mãe o não fôra, e conhecia algumas que tinham só o seu moço dellas; mas era genio e queria ser casada. Não queria tambem que a filha fosse outra cousa. E trabalhava muito, queimando os dedos ao fogão, e os olhos ao candieiro, para comer e não cair. Emmagreceu, adoeceu, perdeu a mãe, enterrou-a por subscripção, e continuou a trabalhar. A filha estava com quatorze annos; mas era muito fraquinha, e não fazia nada, a não ser namorar os capadocios que lhe