nem terremotos, nem nada. En só pensava naquelle embryão anonymo, de obscura paternidade, e uma voz secreta me dizia: é teu filho. Meu filho! E repetia estas duas palavras, com certa voluptuosidade indefinivel, e não sei que assomos de orgulho. Sentia-me homem.
O melhor é que conversavamos os dous, o embryão e eu, falavamos de cousas presentes e futuras. O maroto amava-me, era um pelintra gracioso, dava-me pancadinhas na cara com as mãosinhas gordas, ou então traçava a beca de bacharel, porque elle havia de ser bacharel, e fazia um discurso na camara dos deputados. E o pae a ouvil-o de uma tribuna, com os olhos rasos de lagrimas. De bacharel passava outra vez á escola, pequenino, lousa e livros debaixo do braço, ou então caía no berço para tornar a erguer-se homem. Em vão buscava fixar no espirito uma edade, uma attitude; esse embryão tinha a meus olhos todos os tamanhos e gestos: elle mamava, elle escrevia, elle valsava, elle era o interminavel nos limites de um quarto de hora, — baby e deputado, collegial e pintalegrete. Ás vezes, ao pé de Virgilia, esquecia-me della e de tudo; Virgilia sacudia-me, reprochava-me o silencio, dizia que eu já lhe não queria nada. A verdade é que estava em dialogo com o embryão; era o velho colloquio de Adão e Caim, uma conversa sem palavras entre a vida e a vida, o mysterio e o mysterio.