CAPITULO XCI

 
Uma carta extraordinaria
 

Por esse tempo recebi uma carta extraordinaria, acompanhada de um objecto não menos extraordinario. Eis o que a carta dizia:

«Meu caro Braz Cubas.

«Ha tempos, no Passeio Publico, tomei-lhe de emprestimo um relogio. Tenho a satisfação de restituir-lh’o com esta carta. A differença é que não é o mesmo, porém outro, não digo superior, mas egual ao primeiro. Que voulez-vous, monseigneur, — como dizia Figaro, — c’est la misère. Muitas cousas se deram depois do nosso encontro; irei contal-as pelo miudo, se me não fechar a porta. Saiba que já não trago aquellas botas caducas, nem envergo uma famosa sobrecasaca cujas abas se perdiam na noite dos tempos. Cedi o meu degrau da escada de S. Francisco; finalmente, almóço.