MEMORIAS DE UM NEGRO
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Acho que fiquei mais surprehendido que ao receber o convite para falar na abertura da Exposição. Entrando no jury, eu teria o direito de julgar os trabalhos das escolas negras e os das brancas tambem. Acceitei o cargo e passei um mez em Atlanta, no exercicio desses novos deveres. O jury compunha-se dumas sessenta pessoas, brancos nortistas e sulista, entre elles directores de collegios, sabios, homens de letras e especialistas em muitos assumptos. Quando se organizou a minha secção, o sr. Thomas Nelson Page, em moção unanimemente acceita, indicou-me para secretario. Approximadamente metade dos meus companheiros era do Sul. Pois, examinando os papeis de escolas brancas, fui tratado invariavelmente com respeito, e no fim dos nossos trabalhos separei-me triste dos collegas.

Muitas vezes me pedem que diga francamente o que penso a respeito da condição politica da minha raça. Repito o que em Atlanta já disse claramente. Tempo virá em que o negro do Sul terá todos os direitos politicos que a habilidade, o caracter e a riqueza lhe permittirem. Julgo, porém, que esses direitos não serão arrancados á força, mas espontaneamente offerecidos pelo povo do Sul. Logo que os homens d’aqui deixem de suppor que extrangeiros os obrigam a fazer o que elles não desejam, acho que teremos transformações favoraveis