MEMORIAS DE UM NEGRO
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Findo o discurso, o governador Bullock atravessou rapido o palco e apoderou-se da mão do orador. Uma segunda ovação rebentou, e os dois homens ficaram juntos alguns instantes, de mãos dadas.”

Depois do discurso de Atlanta, acceitei alguns convites para falar em publico, sobretudo quando me apparecia ensejo de visitar regiões onde minha palavra podia ser util á raça negra. Referi-me largamente ás necessidades do meu povo e aos trabalhos de Tuskegee. Como não sou conferencista profissional, puz de lado a idéa de ganho.

Sempre me espantou, desde que falo em publico, notar que muitas pessoas abandonam os seus negocios por minha causa. Vendo a multidão invadir uma sala de conferencias para escutar-me, sinto-me confuso, lamento que ella se disponha a perder uma hora. Convidaram-me, ha alguns annos, para falar numa sociedade literaria de Madison, no Wisconsin. No meio duma tempestade de neve que durou muitas horas, dirigi-me ao local da reunião, só por descargo de consciencia, certo de que lá não estava ninguem. Pois achei a sala repleta, o que me causou verdadeiro assombro.

Já me perguntaram se me commovo ao fazer um discurso. Como arengo com frequencia, julgam que não estou sujeito a perturbações. Confesso que tenho momentos horriveis, e algumas vezes a

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