O compadre, que no meio de tudo tinha sempre pintado a história do menino com cores muito favoráveis, não cessando de gabar a sua mansidão, boa índole, e dourando sempre as suas diabruras com o título de inocências, ingenuidades ou coisas de criança, começou a dar o cavaco com o desmentido que lhe dava a vizinha, que ao contrário dele pintava tudo com cores negras. A comadre interveio também nessa ocasião, porém conservando uma posição duvidosa: ora era da opinião do compadre, ora da opinião da vizinha.

D. Maria, que morria por conversa, e sobretudo por novidades, tomava o maior interesse na história, e ninguém se lembrava de que vez alguma tivesse ela esquecido por tanto tempo suas demandas.

O pequeno, sentado em um canto, ouvia tudo em silêncio observador. O compadre mal se podia conter, em respeito a D. Maria, com as invectivas da vizinha; esta, julgando-se segura na roda em que estava, desabafava largamente contra o menino. Finalmente terminou dirigindo-se a D. Maria, e dizendo na sua frase do costume:

— Então, senhora, é o que eu digo ou não? Tem maus bofes...

— Maus bofes, atalhou o compadre já com a calva muito vermelha, maus bofes? ora esta...

O pequeno lançou do seu lugar à vizinha um olhar fulminante, e que queria pouco mais ou menos dizer:

— Deixa estar que esta não fica sem troco.

D. Maria, vendo que o compadre começava a exasperar-se, fez-se medianeira, e disse dirigindo-se à vizinha: