chão, encostada à cadeira onde se achava sentado, e começava o trabalho.
Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal, pausada e vagarosamente, no que o acompanhavam em coro todos os discípulos. Quanto a fazerem os sinais era ele quase sempre logrado, como facilmente se concebe, porém pelo que toca à repetição das palavras, tão prático estava que, por maior que fosse o número dos discípulos, percebia no meio do coro que havia faltado esta ou aquela voz, quando alguém se atrevia a deixar-se ficar calado. Suspendia-se então imediatamente o trabalho, e o culpado era obsequiado com uma remessa de bolos, que de modo nenhum desmentiam a reputação de que goza a pancada de cego. Feito isto, recomeçava o trabalho, voltando-se sempre ao princípio de cada vez que havia um erro ou falta. Acabado o pelo-sinal, que com as diversas interrupções que ordinariamente tinha gastava boa meia hora, repetia o mestre sozinho sempre e em voz alta e compassada a oração que lhe aprazia; repetiam depois o mesmo os discípulos do primeiro ao último, de um modo que nem era falado nem cantado; já se sabe, interrompidos a cada erro pela competente remessa de bolos. Depois de uma oração seguia-se outra, e assim por diante, até terminar a lição pela ladainha cantada.
Ao sair recebia o mestre uma pequena espórtula do dono da casa.
D. Maria, tendo em sua casa um número não pequeno de crias, não se dispensava de ter, como todos que estavam em suas circunstâncias, o seu mestre-de-reza. Era este um cego muito afamado pelo seu excessivo rigor para com os discípulos, e por conseqüência