— E o dele não é pior, respondeu a comadre.
E acrescentou com intenção:
— Estava um bom casal.
— Oh! senhora, disse D. Maria com ingenuidade, deixe a menina, que ainda é muito cedo...
— Também não digo já, mas a seu tempo.
D. Maria sorriu-se com um sorriso de que a comadre não desgostou. Mudaram de conversa.
Passou-se a noite; no outro dia saiu o enterro com todas as formalidades do estilo. Depois disso tratou-se de resolver uma importante questão: para a companhia de quem iria o Leonardo? A abertura do testamento feita nesse mesmo dia resolveu a questão. O compadre havia instituído a Leonardo por seu universal herdeiro. A comadre informou de semelhante coisa ao Leonardo-Pataca, e este apresentou-se para tomar conta de seu filho. Não pareceu o rapaz muito satisfeito com a graça: não sei como veio-lhe à idéia aquele terrível pontapé que o fizera fugir de casa; além disso raríssimas vezes vira depois disso a seu pai, e estava completamente desacostumado dele. Não havia porém outro remédio; foi preciso obedecer e acompanhá-lo para casa, onde encontrou sua pequena irmã, e quem a pusera no mundo.
O Leonardo-Pataca começou a cuidar no testamento como homem entendido na matéria, e em pouco tempo deu volta a tudo aquilo.
Cumpre notar que se em vida do compadre corriam boatos que pareciam exagerados a respeito do que ele possuía, quando morreu pôde verse que esses boatos tinham ainda ficado muito aquém da verdade, pois deixara ele um bom par de mil cruzados em espécie. Entregues alguns legados de pouca monta,