a conversar, porém baixinho.

— Então, senhora, principiou D. Maria, este homem não havia morrer assim sem ter feito seu testamento; pois ele não havia de querer deixar no mundo o afilhado ao desamparo para os ausentes se gozarem do que a ele lhe custou tanto trabalho.

— A mim, respondeu a comadre, nunca me falou em semelhante coisa; mas enfim, como isso são lá negócios de segredo... talvez.

— Seria bom procurar-se; talvez em alguma gaveta por aí se ache; é impossível que o defunto não dispusesse sua vida; bem vezes lhe aconselhei eu semelhante coisa.

— Tem razão, D. Maria, eu acho também que deve haver alguma coisa.

E foram as duas tratar de procurar o testamento nas gavetas de uma grande cômoda que havia no quarto do defunto. Enquanto nisso se ocupavam, Luisinha e Leonardo conversavam, ou antes cochichavam, como se diz vulgarmente. O que eles se diziam não posso dizê-lo ao leitor, porque o não sei; sem dúvida a rapariga consolava o rapaz da perda que acabava de sofrer na pessoa do seu amado padrinho.

Finalmente as duas acharam com efeito um testamento, e ficaram com isso muito satisfeitas.

Voltaram à varanda e surpreenderam os dois no melhor da sua conversa. A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:

— Ela tem muito bom coração!