Chiquinha, a amante de Leonardo-Pataca, era de um gênio assim; e depois que moravam todos juntos, não perdia uma só dessas ocasiões em virtude de antipatia que tinha ao rapaz, para fustigar de língua ao pobre Leonardo. Este, de um gênio colérico e pouco acostumado a ser contrariado, ia às nuvens com semelhante coisa; e se em ocasiões ordinárias em que estava de bom humor eram constantes as brigas em casa, calcule-se o que não faria nas ocasiões como naquela a que nos referimos, que estivesse cheio de razões, e então por que motivo! Vendo Chiquinha entrar o Leonardo pela porta adentro de cara amarrada e sem dar-Deus te salve-a ninguém, sorriu-se com malignidade e concertou a garganta, dizendo entre dentes:
— Melhor cara traga o dia de amanhã.
Leonardo, que percebera o que aquilo queria dizer, fez um gesto arrebatado sentando-se em uma cadeira, porém com tanta infelicidade, que atirou ao chão uma almofada de renda que se achava junto dele: com a queda rebentaram-se os fios, e uma porção de bilros rolou pela casa. Por maior infelicidade ainda a almofada era de Chiquinha, e Chiquinha tinha grandes ciúmes pela sua almofada. Levantou-se ela do seu lugar já fervendo de raiva; pôs as mãos nas cadeiras, e balançando a cabeça à medida que falava, exclamou:
— Ora dá-se um desaforo de tamanha grandeza?... vir da rua com os seus azeites, todo esfogueteado, e de propósito, e muito de propósito, fazer-me o que estão vendo, só para me desfeitear, como se fosse aqui um dono de casa que pudesse desfeitear a qualquer sem quê nem para quê!...