Leonardo ouviu tudo sem interromper, procurando sopear a raiva; e enquanto Chiquinha tomava fôlego, respondeu com voz trêmula e entre cortada:
— Não se meta com a minha vida, porque eu também não me importo com a sua; se estou com os azeites...
— Ah! bom côvado e meio! atalhou Chiquinha, ah! bordo da nau!... ah! major Vidigal!...
— Já lhe disse...
— Qual já lhe disse, nem meio já lhe disse!... namorado sem ventura...
Estas palavras fizeram o efeito de uma faísca em um barril de pólvora. Avançou o Leonardo para Chiquinha com os punhos cerrados e espumando de cólera.
— Se me diz mais meia palavra... perco-lhe o respeito... eu nunca lhe dei confiança; e apesar de ser a senhora lá o quer que é de meu pai... perco-lhe o respeito...
— Você sempre mostra que tem raça de saloio, disse Chiquinha empertigando-se e sem recuar um passo.
O Leonardo-Pataca, que estava no interior da casa, acudiu apressado ao barulho, e veio achar os dois ainda em atitude hostil; vendo o filho quase não quase a desfeitear o adorado objeto de seus derradeiros afetos, não trepidou em desbaratar com ele.
— Pedaço de mariola... pensas que isto aqui é como a casa de teu padrinho donde saíste... quero aqui muito respeito a todos... do contrário... se já uma vez te dei um pontapé que te fiz andar muitos anos por fora,