em minuto cada qual tomando mais calor, se julga dobradamente ofendido; as juras se cruzam, as ameaças se chocam; não fica no dicionário termozinho de escolha que não saia à frente; umas questões trazem outras, estas ainda outras; recorre-se às ofensas passadas, presentes e futuras para fazer-se carga aos adversários. Tudo enfim se diz, e nada se consegue; a briga dura muitas horas, ao termo das quais os contendores, fatigatis sed non saciatis, abandonam o campo, ficando mais encarniçados uns contra os outros do que o estavam a princípio. E se por acaso, tocando já em retirada, algum ousa ainda soltar uma derradeira imprecação, pega de novo a coisa, e dura ainda bom pedaço. As mais das vezes fica tudo em palavras.

Desta vez porém não sucedeu assim: um dos primos, que era esquentadete, avançou para o Leonardo depois de lhe ter mandado, como batedor, uma grande injúria, e deu-lhe dois safanões, agarrando-o pela gola da camisa. Leonardo, que neste mundo só tinha medo do pai, reagiu contra o agressor; as duas velhas e Vidinha, tentando apartá-los, não faziam mais do que romper-lhes a roupa e aumentar-lhes a raiva; as demais pessoas ocupavam-se em bater nas paredes e chamar os vizinhos. Lutaram os dois por algum tempo sem que disso resultasse acidente grave para nenhum deles, e afinal apartaram-se. Leonardo, apenas se viu livre do seu adversário, foi querendo pôr-se no andar da rua: pesava sobre o infeliz desde criança uma espécie de sina de Judeu Errante. As velhas, que em todo o barulho tinham tomado o partido dele, não consentiram porém nisso; alegaram que estavam em sua casa, e podiam mandar como quisessem. Leonardo insistiu apesar disso e apesar