Era para tal sociedade que o famoso Cortais, inspirando-se nas glórias dos grandes cozinheiros, formava o cortejo dos seus pratos arquitetônicos, verdadeiras obras-primas com que depois pretendeu, segundo me disseram, arruinar a coroa de Itália. Ouvi também que ele, seguindo ainda nisso as tradições dos mestres da arte, mostrara uma vez o seu reconhecimento servindo em um dos banquetes do Quirinal uma composição sua inscrita no cartão real – à la Penedo. Naquele dia o diplomata brasileiro há de ter dito, como Chateaubriand, quando deram o seu nome a um beefsteak: “Agora, sim, não posso mais morrer”.

Uma dessas representações de monsieur Cortais diante de testas coroadas com toda a encenação que reclamava, inclusive o grupo de belezas profissionais da alta sociedade inglesa, não podia deixar de apagar de todo no espírito de um jovem adido de Legação brasileiro o prestígio, se o conservavam, das decapitações reais da Convenção ou de Witehall.

Não me tomem por um sibarita, porque me inclinei diante de um grande chefe como diante de um artista. “Il en faudrait au moins un à l’Institut”, dizia Talleyrand. Entre o festim de Trimalcião e um menu composto por um estilista francês, há, como entre a dança das alméias e o minuete a longa distância de civilização que separa a sensualidade da elegância.