Eis aí, Eminência Reverendíssima, a esplêndida ocasião que se oferece ao soberano pontífice de interceder, de intervir, de ordenar em favor dos escravos brasileiros. Dessas cartas de alforria depositadas de seu augusto trono, Leão XIII pode fazer a semente da emancipação universal. Uma palavra de Sua Santidade aos senhores católicos no interesse dos seus escravos, cristãos como eles, não ficaria encerrada nos vastos limites do Brasil, teria a circunferência mesma da religião, penetraria como uma mensagem divina por toda a parte onde a escravidão ainda existe no mundo.
O papa acaba de canonizar a Pedro Claver, o Apóstolo dos Negros. Na época adiantada da civilização em que vivemos, há infelizmente ainda escravidão bastante no mundo para que Leão XIII possa acrescentar a seus outros títulos o de Libertador dos Escravos.
Alguns dos seus ilustres predecessores procederam por vezes contra a escravidão; tendo esta por única origem o tráfico, está de fato compreendida nas bulas que o condenaram, mas os tempos em que esses imortais pontífices falaram não são os nossos, a humanidade então não havia feito esforços para apagar o seu crime de tantos séculos contra a África, cuja raça infeliz parece destinada a sofrer, sob formas diversas do mesmo preconceito, a fatalidade da sua cor. Um ato de Leão XIII, generoso, ardente, inspirado na espontaneidade de sua alma, contra a maldição que pesa sobre aquela raça, seria um benefício incalculável.
Nenhum pensamento político intervém na súplica que dirijo ao chefe do mundo católico em favor dos mais infelizes dos seus filhos. Não quero senão pôr o seu coração de pai em comunicação direta com o deles. Desse contato da caridade com o martírio não pode jorrar senão a onda de misericórdia que eu espero. Por ela o jubileu de Leão XIII será assinalado como uma
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MINHA FORMAÇÃO