humanidade, é absurdo desdenhar d’esse modo o que tem com tão elle estreitas relações.
Se eu fosse pedante era capaz até de te provar que o livro que descrevesse o que o homem tem comido nas épocas primitivas e nas quadras de civilisação refinada e perfeita, nos periodos de barbaria e nos tempos de desenvolvimento e de progresso, seria o livro mais completo da historia universal da humanidade.
O alimento faz o homem.
Os antigos scandinavos, os reis do mar, os impetuosos e bravios caçadores de uroch, brancos, athleticos, sanguinarios, de olhos azues metallicos e faiscantes; alimentavam-se nos seus festins cyclopicos da carne quasi crua dos animaes que matavam.
Nero gostava de saborear as contorsões de agonia das murêas que creava nos seus viveiros, e que alimentava muitas vezes com o corpo palpitante dos escravos, e nas festas voluptuosas e crueis que dava na sua Casa de ouro, emquanto dançavam as bailarinas gaditanas e egypcias, os convivas, coroados de rosas, esperavam que o peixe tivesse soltado o ultimo arranco de vida para se servirem do saboroso acepipe.
Não vês atravez d’estes dous exemplos uma raça de instinctos barbaros, e uma civilisação pavorosa e apodrecida?