MULHERES E CREANÇAS
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uma raça, unica e cheia de virginal vigor, ha cousas que estão ainda perfeitamente vagas e fluctuantes.

O destino das mulheres é uma d’essas cousas.

Politicamente possuem os mais amplos direitos, podem ser tudo, aspirar a tudo, todas as carreiras estão abertas diante dos seus passos; socialmente é quasi um dogma o respeito que inspiram.

Ninguem ousa insultal-as nem com uma palavra, nem com uma suspeita, gosam de uma liberdade absoluta, andam sós, viajam desprotegidas ou antes protegidas pela sua fraqueza omnipotente, nos caminhos de ferro, nos omnibus, nos paquetes; sentam-se sósinhas á meza redonda de um hotel, fazem emfim impunemente, apoiadas pela despotica soberania dos costumes, tudo que a nós, européas de facto ou de tradição, se affigura quasi monstruoso de inconveniencia.

E no entanto, apesar d’este reinado apparente, apesar d’este predominio ostensivo, é bem mais profunda a invisivel influencia que as mulheres do velho mundo exercem em torno de si, não sobre as leis, o que seria pouco, mas sobre os costumes, o que é quasi tudo.

É que somos as rainhas do lar; de nosso bom ou mau juizo depende a paz ou a guerra, a ventura ou a desgraça, a prosperidade ou a ruina, a dôce mediania tranquilla ou a agitada e tempestuosa existencia mundana.