MULHERES E CREANÇAS
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De resto odeiam-nos porque lhes teem um certo mêdo.

Comprehendem perfeitamente que são rediculos, elles que andaram tanto tempo de tamancos, a varrer os armazens, a levarem empurrões e maus tractos dos caixeiros grandes da casa, a curvarem-se humildemente diante dos patrões, dando-se agora aquelles ares superiores e desdenhosos de potentados.

Emquanto comem em pratos de Sevres ou do Japão, uns manjares exquisitos que o cosinheiro, o seu cosinheiro de dez ou doze libras por mez, lhes impinge traiçoeiramente, sentem-se acanhados diante do olhar frio, do olhar metallico dos criados de meza, e imaginam que elles no mudo escarneo d’esse olhar, lhes dizem que estão percebendo o seu desastramento, os seus gestos grosseiros, e até a saudade com que recordam a assorda e o bacalhau salgado dos bons dias da mocidade.

D’esta hostilidade mutua nada bom póde resultar.

Os amos são orgulhosos, cheios de desdem, de indiferença, de duro egoismo; os criados são hypocritamente humildes, são invejosos, e malevolamente escarnecedores.

Só um laço póde ligar estes sêres; a cumplicidade.