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MULHERES E CREANÇAS

De cima não haverá brandura em quanto de baixo não houver subserviencia criminosa.

Ambos o comprehendem de sobejo; comprehendem-no sobretudo os criados que andam á mira d’um segredo, d’uma indiscrição, d’uma descoberta qualquer que os faça levantar a cabeça.

No dia em que a aia recebe a primeira confidencia da senhora, no dia em que entrega o primeiro bilhete, no dia em que lhe é escutado o primeiro recado de que a encarregam, invertem-se os papeis, e só continua apparentemente aquella humildade que a suffocava de colera e de despeito.

Era escrava obediente e muda, hoje é cumplice, o que quer dizer tyranna.

Ao marido em caso identico succede o mesmo.

Moralidade d’esta situação: o criado de hoje triumpha quando seus amos se rebaixam.

 

 

Entremos nas casas burguezas, que constituem hoje a maioria.

Vive-se com pouco, ha uma ou duas criadas, a pobreza traz comsigo uma certa promiscuidade que abala o respeito.

Já aqui os criados não são automatos que se movem ao impulso d’uma vontade superior.