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MULHERES E CREANÇAS

D’alli a um anno, se é boa, docil, se tem a intuição das cousas delicadas, se um poderoso instincto de creatura amoravel lhe pede que espalhe em volta de si a felicidade, concedamos-lhe que já tem tido tempo de conhecer e apreciar seu marido, que principia a estimal-o, que se lembra um poucochinho envergonhada dos falsos lyrismos de solteira, das cartas que lhe escrevia fazendo estylo e copiando phrases dos grandes apaixonados que a lenda e o romance immortalisam; que tem, emfim, ainda incompleta, mas já accentuada a noção da verdade e da justiça que ha de guiar-lhe a vida.

Param, porém, aqui os seus conhecimentos, e um dia, surpreza, encantada, extactica, chorando de alegria, umas lagrimas verdadeiras, d’estas que se escoam entre risos de gratidão, percebe que tem nos braços um pequenino ser, a quem tem direito de chamar filho, porque o gerou no seio em longos mezes de agonia insondavel.

Que ha de fazer d’elle? Como ha de desenvolver, robustecer, cultivar a saude d’aquelle entezinho, fragil e indefezo, que lhe solta no regaço os seus primeiros vagidos, buscando com a boquinha faminta e o instincto animal, que Deus concede a todos os seres creados, a primeira gotta do leite materno, que é a sua vida?