MULHERES E CREANÇAS
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Entram as amigas e dizem-lhe em côro:

— Não o cries que perdes a formosura, o viço, a mocidade, tudo o que prende e captiva teu marido.

— Não o cries, que tens de te despedir dos bailes, das noites triumphantes em que a valsa nos arrebata nos circulos vertiginosos, em que as flôres e as finas essencias nos embriagam com o perfume enervante, em que a musica nos côa nos sentidos as suas caricias languidas, em que a luz crúa do gaz nos beija as espaduas opalinas, em que a admiração dos homens nos envolve na audaz provocação dos seus olhares, em que a inveja das mulheres nos enrosca em espiraes de cobra.

— Não o cries, que terás de perder as noutes, não entre alegrias e folgares, mas na alcova, onde a medo bruxoleia a luz mortiça da lamparina, junto de um pequeno berço, ouvindo aquelle choro da infancia, tão doloroso para os ouvidos maternaes.

Teu marido fugirá de ti; elle, que anda cansado da faina diaria, quer as noutes tranquillas, os somnos fartos, as placidas madrugadas; repugnam-lhe os primeiros trabalhos que a creança tem que dar por força á mãe, que fôr mãe, na accepção plena da palavra.

Não creio que a maior parte das mulheres ouça os funestos e corrosivos conselhos das amigas falsas; hoje começa a radicar-se em todos os espiritos a convicção