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MULHERES E CREANÇAS

Se os filhos d’essa classe olhassem para baixo e vissem as privações, as luctas, as miserias dos que só conseguem com o suor do rosto ganhar um pedaço de pão duro e cobrir pobremente o corpo emmagrecido, de certo que se sentiriam felizes, triumphantes, dignos de inveja, na sua mediocridade aurea, na modesta fartura da sua vida domestica, nas distracções intimas de um circulo affectuoso e limitado.

Mas não! Olham para cima, vêem os ricos, os potentados, os dominadores do seculo, ouvem nas tentações febris das suas noites o tilintar magnetico do ouro, vêem passar no fundo dos seus ligeiros coupés, pallidas e desdenhosas mulheres, que medram como flôres exoticas de fulva folhagem metallica na estufa das suas salas opulentas, sentem em si o desejo insaciado de todos os prazeres que não teem, e sem prudencia, sem pudor, sem dignidade, atiram-se ás especulações vergonhosas, transigem com a sua propria probidade, vendem, desde os bens que herdaram de seus paes, até á consciencia que lhes veio de Deus, e quando conhecem que n’esta lucta ingloria, n’esta lucta impossivel só podem ser vencidos, já não é tempo para retrocederem no funesto caminho encetado!

E que não ha parar n’esta ingreme descida.

Teem-me dito por varias vezes que eu sou feroz