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PREFACIO.

 

Um meu amigo, grande viajante e grande admirador do Japão, de quem por trez vezes tive a grata visita emquanto me demorei na terra, dizia-ine uma verdade ao aconselhar-me a escrever logo, de uma assentada, sem mais preparos do que a impressão physica recolhida, as minhas sensações do Japão, sensações da paizagem e sensações dos costumes. Depois, continuava esse espirito curioso e observador, V. fará suas leituras e dará ás sensações estampadas vivo e necessario background dos conhecimentos adquiridos n’aquelles que teem dedicado sua existencia ao estudo aprofundado d’este paiz suggestivo. Mas, por Deus, não deixe perder-se o frescor das suas impressões immediatas: é elle que faz todo o encanto dos primeiros livros de Lafcadio Hearn...

Segui o seu conselho, que se coadunava de resto com a minha intenção instinctiva, e o livro agora publicado é o resultado de um periodo de estudo e reflexão, intercalado entre dous periodos de observação e producção. Logo que cheguei fui notando minhas sensações, diria bem o deslumbramento que me assaltou deante d’esta natureza magnifica. Em tal periodo não se atina ainda com a forma por que são adubados os campos viçosos e floridos; não se repara nos eczemas das crianças alegres e meigas que pelos caminhos bordados de azalcas e violetas nos sahem ao encontro, ou brincam à sombra de pés gigantes de camelias esinaltados de petalas rubras, leitosas e rajadas; não se attenta, enlevado pelo quadro um tempo grandioso e gracioso, na curiosidade impertinente e por vezes malevolente da multidão que nos circumda e espia.