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Quando podia sobrevir esta reacção fatal do desagradavel sobre o pintoresco; quando, partindo-se algum pedaço do polido crystal isolador da superficie, logramos descobrir por baixo uma corrente de repulsão; quando, habituados olhos á claridade do sol radiante do Japão, damos fé do que se esconde nas penumbras; quando certas fraquezas fazem ruborizar a musa poetica que nos julgava absorver a attenção com a sua tunica de pregas rhythmicas, puz-me a conviver intellectualmente com os escriptores cujas obras teem divulgado os segredos guardados por seculos.

Por fim amalgamei sensações proprias e dados alheios e compuz definitivamente o meu trabalho n’uma intenção de sympathia que se contem e de admiração que se não deixa vendar. Ignorando o japonez, minhas leituras viram-se forçosamente quasi confinadas aos escriptores europeus e americanos por quem aliás o Japão tem sido revolvido e pesquizado exhaustivamente, em tudo quanto não constitue o dominio propriamente psychologico, o qual até certo ponto é ainda uma incognita. Não tive seguramente a pretenção de resolvel-a em vinte e um mezes de estada, para isso faltando-me o instrumento principal de penetração moral, a saber, o conhecimento do idioma. O que sobretudo me instigou a publicar as impressões que recebi e denominei da terra e da gente japonezas, foi o facto de ser eu, penso, o primeiro Brazileiro que as colligiu redigiu para offerecel-as aos seus compatriotas.

 

Tokio, 7 de Março de 1903.