Eis mais umas indicações acêrca da trova cuja história o D.or Cláudio Basto investigou com tanto esmêro no n.° 9 da Lusa. ([2])
T. Pires tinha encontrado a trova em textos portuguescs do séc. XVIII e XVII. Eu, por mim, encontrei-a em um texto do séc. XVI, na Lusitania Transformada, de Fernão Alvares: a pág. 520, da ed. de 1781, de que me sirvo, lê-se:
Mãi, sem lesão da virginal pureza,
Assi do solar raio a sutileza
Penetra o crystal claro sem que o quebre.
E’ provável que F. Alvares, conquanto na sua obra mostre conhecimento da poesia popular, se inspirasse aqui em algum sermão ou livro religioso.
A trova, tal como anda na nossa tradição, vem também nas Mil Trovas de Campos & Oliveira, Lisboa 1903, n.° 562; cf. o prefácio, p. xli; e passou para o Brasil, onde J. Rodrigues de Carvalho a imprimiu no Cancioneiro do Norte, que porém só conheço pela referência de C. Goes nas Mil quadras, Rio 1916, pág. 12:
No ventre da Virgem pura
Entrou a Divina Graça;
Como entrou, também saiu,
Como o sol pela vidraça.
Campolide, 25 de Julho de 1917.