Ao precioso artigo em que o director desta Revista ([2]) tratou há pouco da quadra mística
No seio da Virgem-Mãe
incarnou divina graca:
entrou e saiu por ela
como o sol pela vidraça
que, sem ser criação do vulgo, figura nos Cancioneiros Populares, e nesse estado causa a justa admiração de nacionais e estrangeiros, posso acrescentar mais alguns traços em demonstração da popularidade do delicado símile, ou seja da delicada concepção da conceição nela expressa.
Se Cláudio Basto nos mostrou que o primeiro que disse
Sol penetrat vitrum, nec frangitur aut violatur,
sic Virgo peperit, nec maculata fuit.
— primeiro, pelo menos até que seja descoberto outro artista mais antigo, — foi um teólogo-filósofo medieval: aquele Pedro Lombardo, bispo de Paris, cujos quatro livros de Sentenças conteem tôda a doutrina dos Padres da Igreja, exposta com tanta clareza e serenidade que ficaram sendo o Manual predilecto do século XII e modêlo para outros posteriores, eu tinha demonstrado, há alguns
anos, que, propalada seguramente na Igreja em