picaz, reparara nas suas vastas leituras nas freqüentes reminiscências da ideia versada na quadra popular relativa ao acto da transmissão da vida. Por isso sobressaltou-o a minha Nótula (150), impressa na Saudade Portuguesa, quando a leu em 1918.
Ignorando os artigos publicados posteriormente na Lusa, teve a gentileza de me expôr numa carta extensa as suas observações, que vou resumir aqui.
A forma da quadra popular, como corre no Brasil (parte-norte), é a seguinte:
No ventre da Virgem-mãe
incarnou divina graça:
entrou e saiu por ela
como o sol pela vidraça.
Além do trecho de Fernan Caballero ( — que é o meu N.° 4) aponta um passo de um poema religioso moderno — do tempo do Romanticismo, o Volberg de Jean Siméon Pécontal ([1]). Transcreve-o:
5)Il naitra sur un lit de chaume,
et celle qui l’aura porté,
ce roy du céleste royaume,
gardera sa virginité,
car à travers sa chaste mère
passera l’enfant radieux.
E conta que Barbey-d’Aurévilly sublinhou os últimos dois versos como trait raphaélesque.
Quanto a estados anteriores da delicadíssima imagem da luz e da vidraça — anteriores aos tex-
- ↑ Paris, 1831 (segundo Larousse). O letrado brasileiro leu-o no Journal des débats de 1838.