Veio um aprendiz pedir original. Um mocito imberbe e cor de leite, de cabello doirado e grandes olhos femininos, que por empenho do barão tinha sido empregado ali. Emquanto a creança, acanhada e bocal, colhia das differentes mãos as tiras de papel escriptas, o barão cobria-o com o olhar voluptuosamente. Depois, no fim de todos, passou-lhe tambem a Chronica, olhando-o sempre e tocando-lhe os dedos escabrosos, negros, lixados de tinta.

Quando o aprendiz saía, cruzou com elle um rapaz alto e magrissimo, garridamente vestido, chapeu de seda, inonoculo, seu plastrão de linho còr de palha mosqueado, sobrecasaca azul-ferrete de diagonal inglez, muito cerce, — no perfil o que quer que fosse densor e adunco, e a pelle do rosto modelando a anatomia do craneo, aspera, socca, vincada de contractilidades subitas. Era um litterato incipiente e ousado, um phantasista de sensibilidade extrema, um temperamento subtilissimo de artista, cujo estylo nervoso e petulante estava fazendo sensação.


— Traze-me a prova do folhetim, — ordenou para o aprendiz.

E passou a apertar a mão aos collegas.

O barão disse-lhe:

— Olha, senta-te aqui, que eu vou-me embora.

— Já?

— Torno a passar mal: sinto-me incommodado.

— Azias de quem é rico... — arriscou invejoso o velhote ornithorinco.

E, zombeteiro, Mata-Gatos:

— Noz vomica, meu caro.