voluptuosidade, seduzia como uma hetaïra e dominava como um heroe. O barão, todo nos olhos, seguia avidamente a pantomima. Hypnotisava-o principalmente o bello ephebo, com o seu rosto d’um talhe impeccavel, o seu collo alvo e redondo, os seus grandes olhos de veludo negro, o seu corpo solido mas enxuto, de carnes escorrentes, todo em curvas levissimamente cheias, todo n’um contorno de musculos suavissimo, n’uma linha plastica seductora, todo quebrando-se em não sei quê de feminilmente ondulado e gracil, que a gymnastica afinára e consolidára, irreprehensivelmente.

O barão sorvia-lhe, um a um, os movimentos, e em cada attitude, em cada pirueta nova lhe descobria um estimulo, uma seducção mais. O desejo mordia-lhe os nervos. A fascinação tornou-se completa, doida, quasi dolorosa. Socrates não ficou mais inteiramente subjugado, ao seu primeiro encontro com Alcibiades.

No intervalo, o barão saíu excitadissimo. Latejavam-lhe as fontes; via vermelho; na imaginação dançava-lhe a figura do joven acrobata com uma insistencia de allucinação, com uma nitidez material e implacavel.

Cá fóra recomeçára o alarido. Chovia. Abriam-se guarda-chuvas, e ouviam-se, disparadas contra o céo carrancudo, pragas de arrelia. N’uma mercearia ao lado, a gente da geral comia pão com queijo e decilitrava. Os garotos insinuavam-se pelos grupos, gritando: — Senhas mais baratas... Quem vende a senha? — O barão tomou para o meio da rua, instinctivamente. Sentia-se mal; tirou o chapéu; queria que lhe fustigasse o cerebro o ar fresco da noite. N’isto, chega-se-lhe um garoto: