— Vae-se embora, freguez? Quer vender a senha?
O barão olhou-o, distrahido, mas ficou logo fascinado, com o olhar preso ao do rapaz. Se elle era a viva estampa do ephebo que acabava de vêr trabalhar! — Os mesmos olhos, a mesma estatura, o mesmo collo, a mesma elasticidade gracil, o mesmo rythmo adoravel de movimentos. — Disse-lhe, repondo o chapéu, com os labios a silvarem desejo:
— Dou-te a senha e dou-te dez tostões; mas has-de vir comigo.
— Aonde!?...
— Aqui ao largo do Passeio... Quero-te dizer uma coisa.
— Como paxaste?... commentou agre o garoto. E afastou-se a correr: — Quem vende a senha, quem vende?
O barão não tugiu; porém, d’ahi a minutos, eil-o novamente de volta com o rapaz:
— Então, queres ou não queres?... A senha e dez tostões.
E o rapaz, enfadado:
— O snr. deixe-me... já le disse.
O barão não insistiu; mas teve occasião de reparar que, no franzir colerico dos olhos do garoto, uma nuvem se lhe esbatêra sobre as faces, longamente. Era a sombra dos grandes cilios, fartos e sedosos. Tanto bastou para que, breves minutos volvidos, elle estivesse de novo ao lado do rapaz:
— Olha lá, pela última vez!... Dou-te quinze tostões!... Chega aqui ao Passeio. Se não vens, arrependes-te... Quinze tostões!
O rapaz pareceu reflectir; e por fim resmuneou: