— Então, ande lá adeante.

D’ahi a pouco, o barão, incostado ao muro do Passeio, na quina oriental, frente á rua das Pretas, tratava com o rapaz das senhas um dialogo animado e extranho. Propunha-lhe o que quer que fôsse, — coisa pouco do agrado do moço; porque, á torrente de palavras do interlocutor, elle apenas oppunha de onde a onde um meneio negativo de cabeça, ou mastigava baixo: — Está doido!... eu não, senhor!

Chovia ainda. Quando a agua apertava, logo o barão, muito solicito: — Chega-te p’ra aqui. — E ficavam os dois resguardados pelo mesmo guarda-chuva. E a arenga continuava, supplicativa, dôce, muito persuadente, armada toda n’uma rhetorica inflammada, corrosiva, ignobil. Tratava-se por certo d’algum projecto infame de seducção. A certas phrases, que o barão lhe coava mais baixo no ouvido, o rapaz tinha com o braço um gesto de repugnancia, o rosto vincava-se-lhe de desgosto, e afastava-se.

Mas a eloquencia do barão era inesgotavel; accendia-lhe effeitos, argumentos novos a vehemencia do desejo. Um Demosthenes do vicio. Gradualmente, a inconsciencia tímida do gaiato foi soffrendo o imperio da vontade dura e firme do alliciador. O rapaz agora escutava manso, com uma attenção resignada, passivamente; emquanto o seductor fallava, fallava sempre, com os olhos afogados em volupia, os pés irrequietos e o longo bigode cofiado tremulamente pelos dedos emaciados.

Assim a arenga se prolongou por mais d’uma hora, interminavelmente. Já terminára a funcção no Circo. Rodavam os primeiros trens, e a multidão vinha escoando do Salitre para o