era uma paixão commum e de nenhuma forma desprezivel. Cantavam-n’a e celebravam-n’a publicamente. Essa obscena invenção de Ganymedes, principe troyano d’uma belleza maravilhosa, arrebatado e transportado ao Olympo pela aguia de Jupiter para substituir Hébé, a hetaïra divina, no serviço particular dos deuses, é um symbolo; dá o documento frisante de quanto era honrado o ephebismo na antiga Grecia. Este vicio era mesmo trivial em todo o Oriente. Na mythologia indiana ha um episodio analogo ao rapto d’aquelle favorito de Jupiter. Refere o Vaschkala, um dos upanischads do Rig Veda, que Indra em pessôa empolgou, com um gesto fulminante de ave de presa, o joven Medhatithi, transportando-o depois ás mais apartadas e mais sagradas culminancias atravéz dos mundos e dos céus.

Os romanos imitaram, e excedêram por conseguinte, os povos mais velhos do Oriente no gosto da pederastia. Ao tempo de Augusto, o amor de homem para homem era a mais banal das paixões. Muitas vezes, na risonha peninsula da Etruria e do Lacio, o véu da amizade encobria infamissimas torpêzas; pensava-se que a reciprocidade no gozo sensual era o melhor laço para o coração de dois amigos. Julgava-se a amizade dependente d’um appetite lascivo, conjugada com a ligação carnal. Os grandes modelos de dedicação fraterna que nos offerece a historia, — Castor e Pollux, Pirithoüs e Theseo, Pylades e Orestes, Alexandre e Ephestion, Harmodius e Aristogiton, os dois filhos de Adiatorix, os nossos dois Ximenes, Antinoüs e Adriano, Patroclo e Achilles, — não passam os mais d’elles de specimens aberrativos de mutuas complacencias libidinosas.