ouvido contra a porta da escada. Meia hora passou assim... — Se o cachorro faltava!? — Ao pensar isto, interrompeu brusco o passeio e uma onda lhe tumultuou no cérebro, congestivamente. — Era o mais certo... — comentou descoroçoado, raivoso; e recomeçou a passear, com o mar nos ouvidos, vermelho, tonto, agitando os braços num vaivém de cólera.

Nisto, um espatinar surdo de pés descalços vinha crescendo na escada, vagarosamente. Duas pancaditas tremidas na porta... Era o rapaz!

Então, ao tê-lo ali bem vivo e bem completo, o barão sentiu-se iluminar todo numa exultação imensa, ao passo que o amolecia uma frescura de alívio; como se os seus nervos tivessem amansado de repente e lhe normalizasse agora o temperamento uma tonalidade tranquila. Estava alegre, mas senhor de si, calmo; parecia indiferente. E todavia a excitação não amainara; acendera-se mais, pelo contrário. Mas a certeza, a evidência na posse do prazer próximo operara o derramamento da sua ideopatia luxuriosa num doce equilíbrio de distribuição por todo o corpo, dando uma impressão serena e mansa de conjunto. Disse-lhe, pois, naturalmente:

— Já cuidava que não vinhas.

E como o efebo se amarfanhasse tímido junto da porta, cosido à ombreira, o boné de alpaca torturado entre as mãos: — Está à tua vontade... — acrescentou.

O rapaz, perturbado por esta insistência de atenção na sua pessoa, espirou um monossílabo intraduzível. O barão estudava-o, media-o de longe, com entusiasmos de artista.